EU CANTO A DOR DOS MEUS ANCESTRAIS

Foto: Do meu cantar 
Momento marcante do meu aniversário, 07/2016
Cantando no samba do Grupo Comunidade Nó Na Madeira. 

EU CANTO A DOR DOS MEUS ANCESTRAIS

Meus sentimentos se exalam

pelos poros dos meus desejos

Os meus sonhos ressaltam

desato todas as correntes,

dos corpos cansados e doentes

que se banharam no rio sangrento.

São tantas perguntas sem respostas

que deixei no céu da minha infância

No meu coração ficaram expostas

E ao léu ficou... toda a esperança de criança

Vejo o meu povo triste

lágrimas do silêncio persistem

nesse lamento escravo

Eu caminho a curtos passos

canto e escrevo a dor que não vivi

Sinto que algo dói em mim

Não sei explicar direito

são fisgadas no peito

dores da ancestralidade

que comprimem a realidade

No meu insistente pensamento

transitam dores e lamentos

uma triste melodia das correntes

arrastando-se nas terras quentes

do país que eu nasci e cresci

Meu sentimento,

é a força do meu cantar

ponho tudo pra fora,

e me alimento desse cantar

Canto a dor dos meus antepassados

que ficou para marcar o legado de uma luta

que nem por reza brava, 

de maneira alguma, acaba...

Visto a medida dos grilhões

as chibatas de ontem

são os olhares violentos de hoje

que ainda matam,

e nem sabem o porquê...

Assim segue de geração para geração.

são marcas fincadas na alma

E que não foram arrancadas

dos duros corações que desdenham

e fomentam um ódio sem fim.

Qual a razão da escravidão?

Procuro a resposta nessa vida

Enfim...

Sou negra! 

Sigo de cabeça erguida

Seja por onde for

Relatando, cantando ou poetizando

os olhos tristes e humilhados

as feridas, dores e gritos

das senzalas pé no chão

Tenho o Samba como aliado

"A liberdade se faz

para quem não se aprisiona

Ando e entro em qualquer lugar

que o meu querer aciona

e a minha vontade me levar...

Porque sou filha desse chão

e não temo repressão"

Sandra Regina